és o melhor amigo que se pode ter. Eu sei que achas que tenho o meu coração ocupado por centenas de pessoas e que o espaço que tu ocupas nele é igual ao de outros tantos
– mínimo. Mesmo assim, eu quero que saibas isto: és o melhor amigo que se pode desejar.
A minha vida corre, tropeça, anda às cambalhotas e, volta e meia, estagna. Quando olho para a tua, vejo-a sempre igual: sempre a mesma caminhada, ao ritmo do costume. Nada de pressas, nada de exageros. Não sei se é bom ou se é mau, a mim parece-me... equilibrado.
Isto para me fazer ver que, durante todas estas minhas fases, nunca desapareces. Quando tinha os joelhos sujos de tanto rastejar ou o sorriso iluminado de tantas vezes chegar ao céu, bastava-me olhar para o lado, e estavas sempre por perto.
Pela primeira vez, resolveste esconder-te. Eu entendo essa dor, a de ter o coração todo embrulhado e com uns quantos nós (quem me dera não ser eu a responsável por tal agonia...). Resta-me compreender, esperar e aceitar as tuas decisões.
Se estivesses mais ao meu alcance, hoje íriamo-nos rir até as estrelas nos caírem nos olhos. Sonhámos tanto com este dia... Tu dizias que estavas farto de ter de conduzir sempre para todo o lado, enquanto eu me ria e metia os braços para fora da janela. Subíamos e descíamos montanhas, por estradas desertas, a cantarolar as nossas músicas. Às vezes, paravas o carro e saímos para ver a paisagem. Era sempre tão bom...
Hoje, apesar de não te ver, sei que estás
aí. Queria ter o teu abraço e poder dizer-te, de sorriso rasgado, que na próxima viagem, já sou eu que levo o carro. Como não posso, vou escrevê-lo na tua parede, e esperar que apareças para ler. Pode ser presunção minha, mas acredito,
o mais forte que sei, que vais acabar por aparecer.
Tu, logo tu... que cheiras
tão a verde e a música. Eu nunca conheci ninguém tão
música como tu; sentia que tu oferecias claves de sol às pedras, às árvores, aos candeeiros da rua, às nuvens e ao Sol. E, por outro lado, bastava dar-te uma caneta para a mão, que pintavas o mundo todo num simples guardanapo.
Confesso que tenho saudades que me pintes jardins nas mãos ou em folhas de papel. Que me apertes as bochechas, me despenteies e me gozes, por algum do meu estranho vocabulário. Saudades que digas
'tu és uma menina, Rita...', e de esticar o braço e poder alcançar-te.
Poderia enumerar centenas de coisas que me aborrecem em ti, mas seria desnecessário: os irmãos, apesar de todos os defeitos, continuam a amar-se como parte de nós que vagueia por aí.
Se eu pudesse escolher, entregava esse Amor que me deste a alguém melhor. Fazia-te forte, porque as circunstâncias me ensinaram que a força interior é tudo. Obrigava-te a abraçares o teu pai todos os dias, porque, como eu, não quero que um dia te esqueças do que isso é. Fazia com que entendesses que as mães sofrem mais que nós com as nossas lágrimas, e, então, sorrisses sempre para a tua para não a veres triste.
Porque gosto de ti, tão simples como isso, e te quero bem.
Gostava que ligasses aos meus conselhos, porque, mesmo custando, o de hoje seria:
deixa de ser tão resmungão e vai ser feliz.