30 setembro 2005

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E eu nunca fui muito de gritar... Mas, às vezes, já nem me reconheço...

19 setembro 2005

People are Strange.

Sinto-me cansada.
Estou, mais uma vez, sentada no chão. É estranho eu nunca me ter habituado a cadeiras. É estranho, também, ter frio e não querer ir buscar um casaco. Se calhar, estou só à espera de me constipar. Para ter uma razão para poder ficar fechada neste quarto.
Levantei-me cedo demais. E só depois é que percebi que este foi só o primeiro de muitos dias escuros que ainda estão para vir.
Tenho os olhos fraquinhos. Acredito, realmente, que agora os óculos não me iriam fazer mal nenhum. Os números, lá ao fundo, estão cada vez menos nítidos. E eu nem sei se isso me importa.
Dias passados a lembrar coisas antigas tornam-se, sempre, esquisitos. Sorrio, ao lembrar-me dum boné, dumas mãos nos bolsos e dum olhar quieto. E a seguir rio-me sozinha, a pensar numas pernas abertas e num caderno riscado, numa aula de Química. É estúpido ter saudades das aulas de Química, das segundas-feiras. Mas eram as únicas em que me ria e sussurrava sempre baixinho (acho que para mim mesma) ‘oh, aparece. não faltes. senão isto fica chato...’. E ele aparecia, sempre. Depois lembro-me de cachecóis pretos e grandes, enrolados à volta de dois pescoços gelados. E de mãos esquisitas. E de gritos histéricos. E de olhos fechados com muita força, para não poder vê-las. E dos risos à volta... Sorrio muito sozinha, a lembrar momentos perdidos num tempo qualquer que eu nem soube reconhecer como bom ou mau. Mas depois acaba sempre a 'viagem', com palavras tolas que me acordam. Mas o sorriso já não desaparece.
Saudades é uma coisa esquisita. Acho que nunca soube muito bem lidar com elas. Nem com ausências ou distâncias. Não importa, elas existem sempre de qualquer forma...
Não dá para acreditar. Mas é giro... Imaginam-me a dar aulas de Filosofia, à sombra daquela árvore grande da escola. E a cantar coisinhas, com toda a gente sentada na relva. Térérés no cabelo e uma boina qualquer na cabeça. All Star nos pés. E guizos e mais guizos. «Ah, e um rádiozinho a tocar The Cure! 'Friday I'm in love!'» Sons. E cores. Um futuro de cores, foi assim que ela mo descreveu. E nem me pareceu nada mal...
Mas viver é uma coisa esquisita. E eu dou por mim com duas bolinhas brancas, pequeninas, ao meu lado. Mais tarde ou mais cedo, acabo sempre por as engolir. Agora, fazem-me dormir. E eu prefiro assim, a ter de pensar demasiado no que me acontece a cada minuto que passa.
Tenho frio. Mas não vou buscar um casaco.
Estou cansada.
Vou dormir. Este chão já me conhece tão bem...


/me on Coldplay

16 setembro 2005

Um Deus. Ou um deus... Oh, adeus.

Desde ontem que as paredes já não são tão brancas. Estão cobertas de desenhos e palavras que não fazem sentido aos olhos de ninguém. Os príncipes estão lá. E as flores também. As mãos não. Porque estão demasiado aqui. Comigo. Em mim... Não as quero perdidas naquele branco angustiante... Como se já nem voltassem...
Ofendi um deus que todos veneram. Ofendi-o e pus tudo em causa. Odiei-me e odiei-o. Insultei-o. Disse-lhe coisas feias e pedi-lhe que me viesse buscar, duma vez por todas. É preferível morrer duma vez, a morrer assim aos bocados e sempre mais um bocadinho a cada dia. Um dia vai mesmo tudo acabar, não é...? Nunca pensei pôr em causa fés e crenças. Não mesmo. Chamava sempre por ele, quando isto acontecia... Porque sempre o achei bonzinho e amigo. De todos. Sempre achei que era mágico. Quase tão mágico como os que moram atrás do arco-íris. Ou mais, até. Pensava que, possivelmente, ele até poderia ter um barrete comprido, na cabeça, com um sininho na ponta...
Sim, ele é mágico. Se calhar, é um feiticeiro. Podia pôr-nos a sorrir, se quisesse... Ou então, podia emprestar-me o barrete dele. Para eu poder ser mágica, de verdade.
Não fui capaz de lhe pedir ajuda. Achei-o mau. Disse-lhe que ele devia estar a fazer-me isto só para se poder ficar a rir de mim, lá de cima. De mim e de todos. Porque a vida é uma puta. E as idades, agora, nem têm nada a declarar. Porque o 6 é só o 9 virado ao contrário. 16 é 19. 19 é 16. 1989, 1986. Nasci em 1989, mas é como se tivesse nascido em 1986. Entendem? Oh, não importa...
Eu pensei sempre que não fazia sentido existirem só pessoas. E nada mais. Porque é um pensamento egoísta. E seria mau demais isto, ao fim e ao cabo, resumir-se apenas a pessoas. E mais pessoas. Tem de haver alguém lá em cima a comandar os céus e as nuvens. Elas não podem ficar escuras e molhadas sempre que lhes apetece. Tem de haver alguém a dizer-lhes quando podem ou não molhar esta gente toda. Eu sempre achei que era assim. E continuo a achar. Só que, agora, já não sei se ele, lá de cima, é bonzinho. Ou se é mau.
De qualquer das maneiras, quem pode comandar nuvens pode ser o que quiser... Não é?

13 setembro 2005

« És sítio onde as mãos se dão... »

[O post que se segue é comprido e sem qualidade literária absolutamente nenhuma. (Nem sei ao certo o que isso significa...) Mas apeteceu-me deixar de falar sozinha, só por um bocadinho. (Continuo a falar sozinha, de qualquer das maneiras... Não é? Pois é.)]

Perdi o amor pelos números. E, agora, também pelas letras. Eu costumava gostar muito de letras. Porque são assim todas diferentes umas das outras. E, algumas, enrolam-se nelas mesmas. Se calhar, para se aquecerem. Não sei. Mas é bom podermos ter a oportunidade de juntar meia dúzia de letras e criar a palavra ‘mãos’. Porque mãos são uma coisa bonita, mesmo. Eu gosto de mãos. Gosto mesmo. Gosto de dedos a brincar, uns com os outros. E de tardes inteiras deitados na relva, de mãos dadas. Mas não é uma coisa rápida. É devagarinho, sabes? Porque acho que os nossos dedos são um bocadinho envergonhados. Mas, no fundo, são esfomeados também. E, quando se juntam, já não se largam mais. Mãos quentes com mãos frias. Porque as minhas mãos são frias. Como eu. ‘Mãos frias, coração quente’, disse ele. Mas não sei. Eu já nem sequer o sinto. Ao meu coração, entendes...? Deve ter congelado ou assim.
Descobri que ainda há coisas bonitas. É por isso que estou com tanto medo de voltar. Tenho medo de me esquecer dos cheiros e dos sabores. E medo de deixar de sentir um dedo indicador a bater na minha mão, enquanto marca o ritmo duma canção qualquer. Há coisas que deviam durar muito mais tempo. Outras nem sequer deviam acabar. Bolas. E também há algumas que nem deviam começar. Como a escola. A escola é uma coisa má. Com pessoas a mais e amigos a menos. Antes, era uma coisa boa. Onde ríamos e apanhávamos flores. Agora, já não. Não gosto dos olhos. Nem dos ares sofisticados e desconfiados. Uma vez, sonhei que me agarrava a um pilar da escola e gritava ‘aqui vou ser feliz!’. Como no anúncio... Sabes? E ela estava do outro lado, agarrada ao mesmo pilar. E gritava o mesmo. Gritávamos as duas, essa frase. E (sor)ríamos muito. É uma estupidez sonhar com coisas destas, porque eu nunca vou ser feliz naquele antro de misérias. O pior de tudo são os números. Que são cada vez mais. E eu, bolas, odeio-os. Sou fraca. Devia ter coragem para lhes dizer que nunca mais quero ter de escrever o ‘6’ ou o ‘9’, com a mesma caneta que devia escrever o 'A' e o 'R'. Mas não sou capaz. Eles esperam isso de mim. E eu sei que não vou ser capaz. ‘É tudo uma questão de hábito’, dizem eles. Mas a verdade é que andei um ano a tentar habituar-me. E só morri vezes de mais.
O ano passado, a Professora de Português mandou-nos escrever uma carta. Escrevi a carta para a Fada Amarela que, um dia, me há-de vir buscar. Tive vergonha de a mostrar, no fim. Mas foi bom quando a Professora a elogiou. Nem deve ter entendido metade das coisas que eu escrevi, mas ainda assim elogiou. Eu senti-me uma criança pequena quando acaba de receber um saco cheio de gomas. E, nesse dia, fui a pé para casa. A molhar os pés nas poças e a sorrir. Só faltaram as mãos, parece-me. Mas, agora, já as tenho. E não queria mesmo nada ter de as largar.
A Nônô está lá em cima. A olhar-nos e a sorrir. É linda, como ninguém. E eu amo-a, como a mais ninguém. Foi ela que me adormeceu, a noite passada. E foram as mãos dele que me limparam as lágrimas. Tive os dois ao meu lado. Foi por isso que dormi quentinha. É por isso que, hoje, as minhas mãos não estão geladas.



/me on The Gift - Fácil de Entender

05 setembro 2005

Gosto de Ti. Desculpa.


Sabes o que é ter sentimentos sem voz e sem nome a morar dentro de ti?
Eu sei.

É ter uma vontade crescente. Imensa. De imensas coisas. E não ter vontade. De nada. Ao mesmo tempo.
É ter uma força incontrolável, que nasce numa zona secreta das minhas pálpebras e as faz querem-se fechar... antes do tempo.
É querer demais as tuas mãos. Nas minhas. E os teus olhos, presos a um céu brilhante, numa noite de sonhos. É querer as tuas gargalhadas, diluídas numa brisa fresca que teima em brincar com os meus cabelos.
É querer-te. Em mim. E sentir-me ridícula, por ser assim... Comigo. Mas já nem isso importar.
É ter palavras a mais, guardadas numa repartição secreta do coração. Palavras pesadas. Querer cuspi-las. E não ser capaz... De qualquer das maneiras, de que me iriam servir? Há coisas que não se explicam com letras.
Talvez tenha sido esse o meu mal. Ter desejado que fosses capaz de consumir as minhas palavras, ao mesmo tempo que me consumirias a mim. E consumiste-as, sim. Depressa demais. Sem perceberes que eram feitas duma sonorização especial, por serem de mim... para ti.
Consumiste-me a mim também, sim. Não toda. Só... partes. Sonhos e desejos. Sorrisos e alegrias. E eu nem me importei... Achei que tinha de ser assim. Dar, para poder receber... Recebi o quê, mesmo? Desculpas...? Pois foi.
E eu só gosto de ti. De Ti... Mais e mais. E ainda era capaz de te deixar levar mais um sorriso, se assim quisesses. Se assim existissem...

Já reparaste o quanto me gasto em palavras? Que, às tantas, nem me valem de nada. Mas eu só queria poder passar uma vida inteira a tentar escrever o teu sorriso. Cada letra, cada detalhe. E acabaria por se tornar sempre impossível torná-lo nítido numa folha de papel. Mas eu não me iria importar. E iria continuar a tentar escrevê-lo. Porque seria a coisa mais bela, de sempre.

Estou triste.
E sabes que mais? Nunca me importei tanto com isso como hoje.