23 dezembro 2007

(mas já acordei.)






Primeiro chegas no teu jeito destinado a ganhar, entras num comboio, desces: queres ficar.
Sentas-te na cama, eu canto uma canção sobre as coisas serem o que são.

Fumamos à varanda com a Lua a subir, tu danças no escuro, fazes-me sorrir. E largas roupas pelo meu chão, tens o mundo todo na mão...

Sempre que te vejo, ena, eu deixo de respirar. Paro no desejo de que o teu beijo me encontre, e não quero acordar...

Depois tu vens cantar comigo, vens sonhar no meu colchão, beber do meu vinho, comer do meu pão. Fazer-me girar no teu carrossel, viciar-me no aroma da tua pele...

Partimos em viagem, paramos p'ra dormir, sussurras-me umas coisas que eu nem posso repetir... E sais para a rua por estar a chover, pões-te em pose, eu fico a ver.

E sempre que te vejo, ena, eu deixo de respirar. Paro no desejo de que o teu beijo me encontre, e não quero acordar...

Até que um dia tu tens-me, por momentos, um sinal... Dás mais umas piruetas, mas já nada é igual. Perguntas-te o que pode estar p'ra acontecer e não parece difícil saber.

Agora tu estás longe, encontraste onde ficar e eu não, eu não, não me posso queixar. Acordo com o Sol, refresco com o luar e vivo do que a vida tem para me dar.

Mas sempre que te vejo, ena, eu deixo de respirar. Paro no desejo de que o teu beijo me encontre, e não quero acordar...

Não, não quero acordar... Não não, não não, não não...


Jorge Cruz

01 dezembro 2007

' A ti, garanto-te que ninguém se compara. '

O tempo de andar descalça por chãos alcatifados de estrelas desapareceu.
O Sol que brilhava no céu escondeu-se, de repente, e nunca ninguém me ensinou a gostar de dias chuvosos... O arco-íris que trago ao pescoço parece destoar dentro de dias tão escuros, mas não me separo dele, confiante de que ainda me poderá ir aquecendo. E lá fora, já não me conhecem (não me conheço) de outra forma.
No meio das pilhas de cartas que guardo desde a infância, há uma especial, escrita em papel com cheiro a flores silvestres. Veio de longe e é a recordação mais tocável que eu posso ter do meu amor imaginário. Sempre que a abro, sinto-a como se tivesse acabado de chegar à minha caixa de correio.
Leio-a vezes que não sei contar e, por cada uma dessas vezes, ouço a voz dele ao longe, a dizer-me aquelas palavras. Imagino-o muito longe daqui, noutra cidade, a ser feliz sem mim e sinto a dor da distância na pele.
O tempo de ficar deitada na relva, a olhar as nuvens no céu, desapareceu.
O chão está gelado e há sorrisos que já não me acordam os dias - mais um Verão que se foi.
Enrolo-me nos braços deste frio, que me diz que o tempo de correr descalça pelo mundo terminou. E é assim que, mais uma vez, começo a calçar as minhas meias amarelas...


Porque hoje é tempo de ser forte,
e atar os ténis com dois nós.

23 novembro 2007

« Levo as asas nos bolsos e o coração a planar. »

Posso ter perdido de vez as tuas mãos a afastarem-me o cabelo dos olhos ou a apertarem-me as bochechas. Talvez não me volte a sentir tão protegida em mais nenhum abraço, como no teu. Mais ninguém vai encarar com naturalidade as minhas manias e hábitos, que tu já tão bem conhecias. O teu colo pode já não estar disponível para me deixar descansar... E talvez não me possa mais enroscar no teu pescoço.
Posso não ter nunca mais ninguém a pegar-me ao colo ou a deixar-me andar às cavalitas no meio do jardim. Nunca mais ninguém vai querer sair de casa comigo, com mau tempo e sem guarda-chuva, e apanhar uma molha daquelas, só para ir comprar uns botões à Baixa. Duvido que mais alguém me pessa para lhe ensinar a andar de baloiço...
Posso não poder rir mais contigo, como ríamos. Posso não ter mais telas para pintar ou janelas por onde ver o arco-íris. Posso não receber mais cartas de amor de ninguém.



Mas ainda guardo em mim o desejo de conhecer mais mundo, para além do que me mostraste e do que descobrimos juntos.
A vontade de ver (mais) longe,
presa a mil e um sonhos.

13 outubro 2007

Segredo.


As minhas mãos apalpam mais uma vez o chão e eu sinto as pontas dos meus dedos sorrirem. Baixo-me e sento-me no fofo manto verde. Quem me dera poder viver esta sensação todas as manhãs da minha vida...
Descalço-me. Os meus pés sentem o fresquinho da relva e eu deixo-me cair. Nunca nada me soube tão bem como deixar-me mergulhar no verde. É uma sensação infantil e quase primitiva – existiu sempre e nunca desaparece. Sabes aquilo que eu te falava de nos sentirmos em casa sem precisarmos estar debaixo dum tecto sólido? Sinto o verde do jardim como a minha casa. (Quem me dera poder mostrar-te o quanto é clara e solarenga...)
Hoje, tenho a sombrinha da árvore grande para mim, que bom... Deitada, vejo-lhe os ramos que tocam no azul gigante e nas nuvens. Vejo-lhe as folhas, as flores... e uma vem a voar de mansinho e pousa-me na ponta do nariz. Vejo os raios de Sol que passam por entre os ramos e me dão o bom dia; quase lhes consigo tocar.
Se eu fechar os olhos, também quase te vejo. Estás a fazer-me cócegas aqui mesmo, neste sítio. Eu rio-me e tento fugir. Acabamos por cair aqui, debaixo da árvore grande e eu deito-me de costas na relva. Tu imitas-me, olhas para o manto de azul por cima de nós, e dizes:
– Esta noite, podíamos aqui vir. É um bom sítio para eu te mostrar as constelações.
Quando volto a abrir os olhos, tenho um sorriso tolo nos lábios, mas ao meu lado só estão as minhas chanatas. Respiro fundo e tiro da mala o caderno.
Escrevo um segredo, dos que não se podem dizer em voz alta, numa folha e arranco-a. Estico-me o mais que consigo e meto-a, já muito dobradinha, no ramo mais alto a que consigo chegar – que, mesmo assim, é quase o mais baixinho da árvore-mãe. Faço-lhe uma festinha no tronco e digo baixinho:
– Shhh... Guarda-o bem. Eu sei que só tu, que és da relva também, podes sentir.
Meto a mala ao ombro e vou-me afastando descalça, com as sandálias na mão, a caminhar pela minha alcatifa fresquinha.

E só cinco passos depois do começo da calçada, é que deixo de olhar para trás e de nos ver deitados debaixo da árvore, e sinto as pedras debaixo dos pés.











(Se eu pudesse, amava-te.)

28 agosto 2007

-

Não adianta tentares fugir para longe do que sempre esteve (está) dentro de ti.





10 agosto 2007

'Ita!



Atendo o telefone e ouço:
- Rita, há alguém que quer falar contigo...

(E passados alguns segundos e barulhos dumas mãos pequenininhas a tentarem segurar o auscultador...)

- 'Ita, 'Ita... Anda 'ê as fomigas comigo na 'ua!


O sorriso cresce, o dia passa a ter cor e os meus pés quase levantam do chão.

06 julho 2007

Uma vida feita em noite para quem tem medo do escuro.

A noite só cai para quem tem olhos de vidro.
Para mim, a noite sempre caiu todos os dias, a toda a hora. Os meus olhos são do vidro frágil que parte com o peso pouco. As minhas lágrimas são das que fazem ver estrelas brilhantes no céu. Esfrego os olhos a toda a hora, desde que acordo. Não é por acaso, nem por sono, nem por preguiça.
A noite só existe para quem tem, como olhos, corações de saudade. O meu não podia ter mais retalhos de recordações.
A minha vida era como um livro, mas sempre lhe faltou o final feliz. Podia ser como um filme, mas eu sempre a imaginei como um livro. Com o tempo, aprendi a ter sempre um sorriso guardado no bolso. Com o tempo, aprendi também a distinguir os abraços vazios dos abraços carregados de amor – e estes fizeram-me sempre mais feliz no momento, mas também me custaram mais lágrimas quando recebia dos outros.
As minhas noites caem precoces e trazem fantasmas com elas. Esfrego os olhos e aparece-me um rosto familiar à frente, como uma estrela cadente caída no céu. O abraço é feliz e carregado de emoção. Não importa que mudes de penteado e de maneira de vestir se esse sorriso é sempre o mesmo. Hei-de sempre reconhecer-te por muito que mudes, porque pôr do direito essas montanhas viradas ao contrário... Isso tu não és capaz.
Já não ouço a voz infantil e risonha ao ouvido que me fala dum ponto quente, nem a que me chama de rose button. Mas recebo um beijo na testa de despedida e deixo-me consolar.
As mentes pouco sãs atraem tragédias, mas vida, principalmente. São as que vivem numa imensa noite, ora quente ora fria, com o prazer de presenciar a passagem duma estrela cadente, uma vez por outra.
Não consigo deixar de me sentir frágil com os meus olhos e coração de vidro. Com a juventude presa ao escuro que me rodeia.
O fogo de artifício acabou e à segunda vez já não sabe ao mesmo. O céu volta a escurecer.
Mais uma lágrima que se seca com a manga da camisola, mais uma estrela que se apaga no escuro céu. Esfrega os olhos, Rosie, e adormece assim mais uma vez.



Hoje guardo em mim o desejo que, secretamente, metade do mundo guarda dentro de si também: quem me dera não ser eu.

26 junho 2007

Acordar com uma lágrima no canto do olho é uma promessa de dia cinzento.

Tenho saudades dos livros que não lemos, das músicas que não ouvimos, dos chás que não bebemos.
Quando se sonhava com férias passadas em degraus de escadas, a ler passagens dos livros que se haviam de comprar, a ouvir os albúns que já se haviam comprado...




E como hoje não me apetece escrever de Escrever, só me apetecia mesmo conversar, sentada no chão, com um ombro amigo ao lado...; mas como os ombros estão longe (porque têm de estar ou porque eu os enxotei), eu digo ao ombro amigo invisível que hoje me faz companhia:

Sabes, eu acho que cada um devia tentar cuidar bem do seu coração. Mantê-lo limpo e bonito. Não o deixar ficar revestido de tártaro, como os dentes das Pessoas...
Só assim ele pode sorrir. De boca aberta.



(não faz sentido? é bem provável que não. nunca fui muito boa a dar conselhos...)

11 junho 2007

Menina-Canção.

Era uma vez uma menina chamada Maria.
Era diferente de todas as outras meninas, porque tinha uma vida feita de músicas. Era um facto estranho, perturbador e lindo, ao mesmo tempo.
Quando a Maria nasceu, soaram sinos delicados vindos ninguém-soube-de-onde. Mas, no momento em que a Maria abriu os olhos, todos os que estavam na sala os ouviram, e olharam assustados e confusos para aquela menina – linda linda linda –, ao mesmo tempo que a mãe suspirava exausta, mas feliz.
Desde o dia em que a Maria abriu os olhos, os sinos nunca mais pararam de tocar. Apenas foram mudando de tons e ritmos, à medida que a Maria foi crescendo.
Quando a Maria chorava, ouvia-se uma música forte e amarga, que parecia composta por quase uma orquestra completa. Quando a Maria ria, ouvia-se o seu riso doce acompanhado por uma música feliz e infantil, muito subtil... Quando a Maria estava triste, ouvia-se uma melodia verdadeiramente estrondosa e melancólica. Enquanto a Maria dormia, ouvia-se uma delicada canção de embalar, que lhe guardava o sono. Só quando os sons graves da canção mais se faziam notar e a Maria se mexia mais, entre os lençóis, percebíamos que estava a ter um sonho mau.
Os pais não sabiam porque tinha a Maria uma vida feita de músicas. Ninguém sabia. Nem sequer os doutores ou os mágicos. Havia quem dissesse que a Maria tinha um coração diferente dos outros corações. Um coração que tocava música. Uma caixinha de música no lugar do coração.
Todas as manhãs, quando a Maria ia para a escola com a lancheira na mão, as vizinhas, nas suas janelas, anteviam a passagem da pequena. Quando começavam a ouvir ao longe uma música de fundo doce e clara, estivesse sol ou estivesse chuva, já sabiam que aí vinha a Mariazinha – ‘Bom dia, menina-canção!’
Na escola, era difícil conseguir completa concentração. Quando a professora pedia silêncio, todos os meninos se calavam, mas a música da Maria continuava a tocar... Até ao dia em que a professora falou com os pais da menina e ela deixou de poder ir à escola.
A Maria passou a estudar em casa. A mãe ajudava-a nas composições e nas contas. Mas, apesar do amor, a Maria começou a entristecer. Os olhos começaram a ficar cada vez mais baços, assim como os sinos que a acompanhavam. Aos poucos, a sua música (o seu coração?) começou a ficar fraquinha, sem alegria... A Maria começou a desejar ser como os outros meninos.
Deixou de ver o céu cor de fogo, ao fim do dia, e os passarinhos nos ninhos. Deixou de sentir o vento limpo e fresco contra as suas tranças, e o cheiro do amendoim quente a sair do forno.
Um dia, a Maria desejou com todo o coração fazer parar a música... E, entre pequeninas lágrimas, foi perdendo as forças.
Depois desse dia, a pequenina Maria não abriu mais os olhos. E a música deixou, para sempre, de tocar...

03 junho 2007

Ao novo Doutor. *

Hino de Medicina Veterinária

Eu não gosto de Agrícola
Nem de Zootecnia!
Eu não curto Matemática.
QUE SE FODA A BIOLOGIA!!!

VETERINÁRIA, abrimos cães e gatos.
VETERINÁRIA, guilhotinamos ratos.
VETERINÁRIA, esfolamos ovelhas.
VETERINÁRIA, se tens medo não venhas!

VEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEETERINÁRIA!!!










Queima das Fitas do meu irmão, ontem. :')
Noite mesmo muito, muito feliz.

18 maio 2007

« Rosie, come with me. Close your eyes... and dream. »

Queria ter uma voz doce a dizer-me baixinho ao ouvido:


Shhhh... Não tenhas medo do escuro. O escuro é o mesmo sítio onde vivem as tuas fadas e as tuas magias, durante o dia, só que agora de luzes apagadas, a dormirem... (As fadas também descansam, com a varinha mágica guardada debaixo da almofada.)
Guarda os sorrisos, e descansa. Imagina-o a fazer-te festinhas nos dedos dos pés, enquanto adormeces.
Lembra o olhar brilhante dos teus Amigos e de como é enorme a empatia, e mais... o Amor. Que se sente tão forte, que quase se toca.
Deita fora o coração amachucado e pinta um novo, com lápis de cera de todas as cores.
Acredita: apesar de amanhã não ires ter os lábios dele nos teus e as mãos dele nas tuas, vais ter uma noite feliz...

Coisinha.

28 abril 2007

Á Éme Ó Érre.

O meu coração, hoje, sorri. Palpita mais depressa do que ontem ou até do que esta manhã, quando saí da cama, e faz-me inquieta. Inquietação que me faz estar aqui, agora, quando o corpo já só pede descanso.
Hoje, descobri o Amor no Ouvir, no Olhar, no Silenciar, no Crer e no Sentir.
Conhecer o outro e olhar para dentro. Sentir um entusiasmo maior, por ouvir a história duma Fé que traz Felicidade e Vida.
A Fé que, sendo ou não ridícula aos olhos dos outros, nos faz sorrir. E que, hoje, chegou a mim duma forma nova: através dum homem e duma mulher que nunca antes tinha visto e que, provavelmente, nunca mais verei na vida; mas, lá está... a Marca a que eles conhecem bem e que, agora, também eu conheço.
Esta noite, a Rita vai adormecer de coração cheio e com uma fita vermelha-de-vida a morar-lhe no pulso direito, cheia de orgulho.

O Ponto Quente existe, e hoje brilha mais forte.



'Eu antes era muito feliz, mas agora sou ainda mais.'

21 abril 2007

Segurança.

Tudo o que preciso é do teu ombro.
Todas as noites, só preciso do teu ombro para me enroscar no sítio onde começa o teu pescoço. Tu sentes a ponta do meu nariz e dos meus lábios na tua pele, e fechamos os olhos.
Toda a segurança do mundo existe nesse pedaço de Ti.







Tonight, my love, we'll share a sweet embrace...
And if you care to stay in my little corner of the world,
We could hide away in my little corner of the world.

15 abril 2007

Belinha.

Era uma menina chamada Isabel. Caminhava sobre as pedras da calçada como quem desliza pelas fofas nuvens do céu. Ignorava os olhares, mas apreciava o toque. Conforme andava, sonhava; e sonhando, criava. Imaginava histórias e criava cenários, vestia personagens e fazia enredos. Não eram histórias de contar, eram histórias de escrever.
À medida que as imaginava, usava vírgulas exclamações acentos interrogações ponto final parágrafo.
Todos os dias, ao chegar a casa, passava-as todas para o papel. Não conhecia outro mundo, a não ser o das Letras.

Ia a meio do Era uma vez vírgula, quando ouviu, atrás de si, alguém a chamá-la. Suspirando, respondeu:

– Já disse que não gosto que me chamem de Belinha...





(Não, não deixei isto. Só estou sem computador... Estou assim há já uns tempos e devo continuar por mais alguns. A presença vai ser escassa, enquanto a situação assim se mantiver...
Um abraço e uma cereja.)

07 fevereiro 2007

Dia tão escuro, este...

Nasce um dia mais escuro que o resto mundo. Em vez de acordar com os raios de sol a entrarem no quarto, acordo com uma nuvem escura a bater-me no vidro da janela. Toc-toc-toc. A Rita já sai!

Lavo os dentes e o dia começa, mais escuro que o resto do mundo. O camisolão, a saia, as sapatilhas gastas e o cachecol em arco-íris, enrolado ao pescoço: nada de novo.
Saio com as olheiras por disfarçar – como em todos os dias claros – e com o cabelo a esvoaçar, enrolado em caracóis, em ondas e em nós.
A amiga de infância vê-me passar e diz que estou triste. Ainda tento disfarçar com um sorriso de improviso, mas esta é difícil de enganar. Um beijinho na bochecha, dois dedos de conversa e está o assunto resolvido...
Esfrego os olhos todo o dia e falo sozinha. A nuvem escura que me acordou à bruta molha-me satisfeita, enquanto eu piso as folhas mortas e ensopadas, perdidas pela calçada. Bebo um chá de canela e como um pastel de nata, ao mesmo tempo que engulo mais um comprimido branco. Rabisco umas frases num caderno e risco-as logo de seguida – quase me sabe bem.
Sinto a falta. Do cogumelo vermelho e dos duendes (só dos mágicos). Penso na fada amarela, a mais brilhante do meu jardim. Deve estar com as asas e o vestido ensopados... Pobrezinha.
Fico à espera do sol, em cima de um muro, para que o arco-íris apareça e faça companhia àquele que trago preso ao pescoço.
Não aparece. E a nuvem escura ri-se de mim e molha-me mais um bocadinho.
Imagino um Príncipe de caligrafia torta transformado em sapo. Sinto-o a rasgar-me os sonhos só mais uma vez, ao mesmo tempo que aponta para mim e se ri.
De olhos fechados, vejo o pequeno Principezinho – o verdadeiro – a chamar-me, no palco do teatro, de lágrimas nos olhos. Não tem uma coroa, mas tem uma espada, tão pequenina quanto ele. Peço-lhe que me perdoe, de coração apertado, e, naquele momento, sinto a dor de magoar uma criança (a mais mágica das crianças...).
No fim do dia, eu já estou na relva. Um homem aparece e beija-me a ponta do nariz. Eu não tenho reacção, até ele me pegar na mão gelada. Nesse momento, enquanto ele me olha enternecido e com todo aquele amor guardado no olhar que me dirige, eu largo-lhe a mão e dou um passo para trás. Ao mesmo tempo que lhe viro as costas, digo-lhe quase em pensamento: perdoa-me.
Perdoa-me ter de Ser sozinha, homem que mais me amou...





(Nesta altura, já o dia morreu. E o céu escuro da noite em nada se distingue do daquele dia: as estrelas não existem.
À medida que caminho para longe do homem que mais me amou
[que mais me ama...], sinto-o a não sair do mesmo sítio, de pés presos à terra. Ele vê-me partir e eu sinto na pele a dor de sermos responsáveis por tudo o que cativamos.
O dia morreu mais escuro do que nasceu. E as minhas lágrimas já nem se distinguem das gotas de chuva que me molham a cara, pela nuvem mais escura.)

16 janeiro 2007

Mar de nuvens quentes.


A Rita enfiou a boina-branca-francesa na cabeça e percorreu a cidade inteira, duma ponta à outra, numa tarde cinzenta (quase combinava com Paris, mas não teve esse prazer). Quando chegou a casa, abriu o baú e tirou de lá as quatro folhas mais escondidas. Meias empoeiradas, ali estavam elas. Leu-as e sentiu um amor profundo a renascer.
Foi o desenterro do Sonho.
A Rita decidiu que vai dar final à história que começou no Verão de 2005 e que deixou parada todo este tempo.
Quem sabe, no final, ela possa gritar por aí, com o sonho entre as mãos: Eu escrevi um livro.

09 janeiro 2007

Goodbye, Seventeen...

' É estúpido. Ao fazeres 18 anos ganhas tão pouco e, no entanto, aquele minuto ganha tanta importância em termos legais. O quanto a Humanidade liga a números... '



Desejem-me parabéns, quando chegar a altura. E sorriam às 18h45, do dia 11.
Mesmo que eu não pareça muito feliz, a data é de celebração.




/me on Jorge Palma