11 junho 2007

Menina-Canção.

Era uma vez uma menina chamada Maria.
Era diferente de todas as outras meninas, porque tinha uma vida feita de músicas. Era um facto estranho, perturbador e lindo, ao mesmo tempo.
Quando a Maria nasceu, soaram sinos delicados vindos ninguém-soube-de-onde. Mas, no momento em que a Maria abriu os olhos, todos os que estavam na sala os ouviram, e olharam assustados e confusos para aquela menina – linda linda linda –, ao mesmo tempo que a mãe suspirava exausta, mas feliz.
Desde o dia em que a Maria abriu os olhos, os sinos nunca mais pararam de tocar. Apenas foram mudando de tons e ritmos, à medida que a Maria foi crescendo.
Quando a Maria chorava, ouvia-se uma música forte e amarga, que parecia composta por quase uma orquestra completa. Quando a Maria ria, ouvia-se o seu riso doce acompanhado por uma música feliz e infantil, muito subtil... Quando a Maria estava triste, ouvia-se uma melodia verdadeiramente estrondosa e melancólica. Enquanto a Maria dormia, ouvia-se uma delicada canção de embalar, que lhe guardava o sono. Só quando os sons graves da canção mais se faziam notar e a Maria se mexia mais, entre os lençóis, percebíamos que estava a ter um sonho mau.
Os pais não sabiam porque tinha a Maria uma vida feita de músicas. Ninguém sabia. Nem sequer os doutores ou os mágicos. Havia quem dissesse que a Maria tinha um coração diferente dos outros corações. Um coração que tocava música. Uma caixinha de música no lugar do coração.
Todas as manhãs, quando a Maria ia para a escola com a lancheira na mão, as vizinhas, nas suas janelas, anteviam a passagem da pequena. Quando começavam a ouvir ao longe uma música de fundo doce e clara, estivesse sol ou estivesse chuva, já sabiam que aí vinha a Mariazinha – ‘Bom dia, menina-canção!’
Na escola, era difícil conseguir completa concentração. Quando a professora pedia silêncio, todos os meninos se calavam, mas a música da Maria continuava a tocar... Até ao dia em que a professora falou com os pais da menina e ela deixou de poder ir à escola.
A Maria passou a estudar em casa. A mãe ajudava-a nas composições e nas contas. Mas, apesar do amor, a Maria começou a entristecer. Os olhos começaram a ficar cada vez mais baços, assim como os sinos que a acompanhavam. Aos poucos, a sua música (o seu coração?) começou a ficar fraquinha, sem alegria... A Maria começou a desejar ser como os outros meninos.
Deixou de ver o céu cor de fogo, ao fim do dia, e os passarinhos nos ninhos. Deixou de sentir o vento limpo e fresco contra as suas tranças, e o cheiro do amendoim quente a sair do forno.
Um dia, a Maria desejou com todo o coração fazer parar a música... E, entre pequeninas lágrimas, foi perdendo as forças.
Depois desse dia, a pequenina Maria não abriu mais os olhos. E a música deixou, para sempre, de tocar...

11 comentários:

Anónimo disse...

fez me chorar... eu gostava tanto de ser feita de musica, de coisas doces. tu es assim. e espero q nunca deixes morrer a musica,pq te faz brilhar tanto tanto.

Anónimo disse...

ninguém devia calar a música.






não calem a música que eu fico sem ar.

Rita pequenina, és uma grande contadora de histórias. Há uma amiga minha que diz 'há sempre uma pessoa para falar e outra para ouvir' quando eu lhe digo 'bolas... já estou a falar de mais. diz alguma coisa.' tu contas histórias, o mundo precisa de aprender a saber 'ouvi-las'. O mundo precisa de histórias assim.

Eu preciso. e sabem-me tão bem.*

isto está confuso. mas é isso. gosto de ti. *





{quero-te no SuperBock, Rita.*}

Tiago Ramos disse...

Já te disse o que pensava sobre este texto no deviantart. Parabéns!

Anónimo disse...

Tenho uma lágrima no canto do olho...
Beijinho, linda Rita.

Sofia disse...

Acho que já comentei esta tua história tão bonita no teu dA.

*sou a PinkBotton*
^^

Anónimo disse...

não faz mal que não vás ao sbsr... ou melhor faz porque queria encontrar-te no meio daquele chão, outra vez. mas vamos ver-nos!, Rita. nem que eu vá ter contigo a tua casa e me perca umas quantas vezes c autocarros mas tenho uma carta para ti. e um abraço. e não venho de Lisboa sem to 'roubar'. *

(sabes o mais giro...? ter encontrado no teu blog uma menina daqui que já não vejo há muito tempo.)


beijinho,
Ana.

da.rocha disse...

todos temos um pouco de Maria dentro de nós...
continuas a ter o cantinho mais saboroso de se ler e apreciar...! incrível...
um beijo
:)

Sara Leal disse...

:)*

Sara Leal disse...

Estás desafiada para o "Desafio da página 161" :)

http://paraepensa.blogspot.com/2007/06/desafio-da-pgina-161.html

Mariana disse...

Essa escrita Rita, Rita...

Daniela disse...

estou sem palavras.
a única que me ocorre é: perfeito!