Os céus apagam-se todos à minha passagem. Há uma corrente metálica feita em brisa que percorre toda esta cidade. Sinto-a a refugiar-se, gelada, num canto secreto entre os meus cabelos e a pele do meu pescoço. Quase me beija, mas eu não sei, já estou anestesiada.
Percorro as calçadas todas deste mundo até ao pico mais alto, mergulhada numa bebedeira de azul. Não sei se é do rio, se é do céu. Talvez seja do mar que batia nas rochas e me salpicava a cara. Lá em cima, vejo um pássaro cor de fogo que cruza o ar sem medos e vai de encontro às nuvens. Traz dois brilhantes nas asas. Eu estou ali mas ando a vaguear por outros pontos remotos do globo, ao mesmo tempo; ninguém mais sabe.
Subo um pouco mais para conhecer a cor do beijo que ficou por dar. Só vejo homens furiosos com monstros nos dentes. Não me mostrem as armas, que eu não sei lidar com essas dores. As minhas são feitas de outro material, mais moldável. Lá aceitam, fazem-me uma festa na cabeça e chamam a orquestra. É gigante e toca valsas e tudo o que se imagina, mas eu só ouço os violinos e os violoncelos. Pergunta-me um dos homens: a menina caminhou muito para cá chegar? Não, nem me cheguei a levantar do passeio. Fazem-me mais perguntas que eu só sei responder com um encolher de ombros. É muito pequenina ainda, é.
Então, quando fujo sem ninguém sequer dar conta, já me estão a encher outro copo na tasca. Encha, encha, que eu estou à espera dum amigo, ele ainda pode demorar e eu não me dou muito bem com esperas. É um mundo bêbedo, este. Que combinemos um com o outro, ao menos. Relembro eu, então, de copo na mão, os dias em que me plantavam flores no peito, à medida que os vasos caem estatelados dos beirais. Lembras-te, poeta? Eram outras viagens. E ficaram-me com as sementes.
Noutro canto da miragem há uma mulher que toca flauta. Atravessa ruelas e em vez de ser seguida pelos ratos dos contos, é só por mim. Parece uma mãe de rodas e bordados e toca a flauta com todos os dedos, como se me chamasse a segui-la. Quem sou eu, longe do que aqui deixo, do que vês? Não me conheço, mas ela sabe-me. Há mil braços que me abraçam e empurram para o caminho que ela faz à minha frente. Mil risadas no ar, também. Quando pára, há uma porta mais alta que todas as árvores ao fundo dum beco. Ela pergunta lá do fundo: é um bilhete para aonde? E eu deixo-a escolher e deixo-a guiar-me, como quando era muito pequenina e não sabia o caminho de volta para casa.
Percorro as calçadas todas deste mundo até ao pico mais alto, mergulhada numa bebedeira de azul. Não sei se é do rio, se é do céu. Talvez seja do mar que batia nas rochas e me salpicava a cara. Lá em cima, vejo um pássaro cor de fogo que cruza o ar sem medos e vai de encontro às nuvens. Traz dois brilhantes nas asas. Eu estou ali mas ando a vaguear por outros pontos remotos do globo, ao mesmo tempo; ninguém mais sabe.
Subo um pouco mais para conhecer a cor do beijo que ficou por dar. Só vejo homens furiosos com monstros nos dentes. Não me mostrem as armas, que eu não sei lidar com essas dores. As minhas são feitas de outro material, mais moldável. Lá aceitam, fazem-me uma festa na cabeça e chamam a orquestra. É gigante e toca valsas e tudo o que se imagina, mas eu só ouço os violinos e os violoncelos. Pergunta-me um dos homens: a menina caminhou muito para cá chegar? Não, nem me cheguei a levantar do passeio. Fazem-me mais perguntas que eu só sei responder com um encolher de ombros. É muito pequenina ainda, é.
Então, quando fujo sem ninguém sequer dar conta, já me estão a encher outro copo na tasca. Encha, encha, que eu estou à espera dum amigo, ele ainda pode demorar e eu não me dou muito bem com esperas. É um mundo bêbedo, este. Que combinemos um com o outro, ao menos. Relembro eu, então, de copo na mão, os dias em que me plantavam flores no peito, à medida que os vasos caem estatelados dos beirais. Lembras-te, poeta? Eram outras viagens. E ficaram-me com as sementes.
Noutro canto da miragem há uma mulher que toca flauta. Atravessa ruelas e em vez de ser seguida pelos ratos dos contos, é só por mim. Parece uma mãe de rodas e bordados e toca a flauta com todos os dedos, como se me chamasse a segui-la. Quem sou eu, longe do que aqui deixo, do que vês? Não me conheço, mas ela sabe-me. Há mil braços que me abraçam e empurram para o caminho que ela faz à minha frente. Mil risadas no ar, também. Quando pára, há uma porta mais alta que todas as árvores ao fundo dum beco. Ela pergunta lá do fundo: é um bilhete para aonde? E eu deixo-a escolher e deixo-a guiar-me, como quando era muito pequenina e não sabia o caminho de volta para casa.
9 comentários:
Dorothy: Follow the yellow brick road!
que grande viagem, ritinha... *
magnífico *.*
Goza a rota entao (e desculpa a falta do til)*
'Subo um pouco mais para conhecer a cor do beijo que ficou por dar.'
tenho uma cor por conhecer também.
*
oi Rita!!!
Gostei do teu blog e vou segui-lo.
Podes seguir os meus se quiseres.
Jiiiiinho
da miiiiiiiginha
Isa
De passagem, aproveito para te deixar um beijo cheio de saudade.
WOW!
Que lindo o que vc escreveu...
Pena que parou...
Quando voltas?
Ou algum livro p/ ser lançado?
Me avise!
Já sou sua fã!
Bjs,
Adriana
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