Vagueio pela cidade que me viu nascer, essa que serve de inspiração aos poetas, fechada num escuro rasgão que me fere para lá dos ossos. Não há luz nenhuma ao alcance da minha vista capaz de me abençoar os passos ou as escolhas. Quem sou eu e para onde vou, neste lugar sangrento e feroz onde querer só tocar o céu já não chega?
A intelectualidade das mentes fere-me. O mundo, em geral, também. Está infectado de protocolos regidos pela pobreza de espírito.
Recuso-me a compactuar em silêncio, apenas com a caneta na mão para ir tirando notas, com as parvoíces dos homens e acabo com as mãos todas fechadas para mim. E agora?, pergunto-me enquanto vejo, no metro, um homem com a barba por fazer - aprende a resistir - com claves de sol a boiarem-lhe por cima da cabeça. A resposta, não a vejo, nem mais às claves que entraram com o seu dono na carruagem da frente.
Há um mágico que cospe àzes de copas nas ruas bêbedas do meu desconsolo. Abro o peito, com a maior calma imaginada e um pequeno sorriso, enquanto digo à minha amiga: já acreditas que a magia existe? Só quando já venho a descer para o Cais, me lembro que me esqueci de o pedir em casamento. Esta noite ainda lá estará - ainda há cartas por aparecer saídas de dentro da manga ou de detrás da orelha - mas os meus lábios estão por pintar. Haja romantismo.
Faz falta uma madrugada de chuva que afogue o rio que me olha, todos os dias, cheio de fragmentos do que fui e deixei. E lá está ele, na outra margem, o príncipe de trapos que me assombrou a juventude. Fode-me agora, que já nada me importa, que já não tenho morada onde ancorar os meus sonhos. Eu sempre desconfiei: as minhas lágrimas são açúcar na tua boca.
E agora, assim chego ao fim: sem nada de mim que seja (m)eu.
Fiz-me velha cedo. Aprendi a gostar de velhos, também. Descobri que os bancos de jardim, aqueles onde bate o Sol das cinco, têm mais vida quando lá se senta alguém do tempo d'a menina dança?.
Leia-se aqui: quando eu morrer, que se ouça murmurar sob a lembrança de mim: em miúda, nenhuma dor lhe corroía tanto o peito nem lhe pesava tanto no choro, senão o sonho de ter nascido no tempo da palavra.
fotografia tirada daqui.
A intelectualidade das mentes fere-me. O mundo, em geral, também. Está infectado de protocolos regidos pela pobreza de espírito.
Recuso-me a compactuar em silêncio, apenas com a caneta na mão para ir tirando notas, com as parvoíces dos homens e acabo com as mãos todas fechadas para mim. E agora?, pergunto-me enquanto vejo, no metro, um homem com a barba por fazer - aprende a resistir - com claves de sol a boiarem-lhe por cima da cabeça. A resposta, não a vejo, nem mais às claves que entraram com o seu dono na carruagem da frente.
Há um mágico que cospe àzes de copas nas ruas bêbedas do meu desconsolo. Abro o peito, com a maior calma imaginada e um pequeno sorriso, enquanto digo à minha amiga: já acreditas que a magia existe? Só quando já venho a descer para o Cais, me lembro que me esqueci de o pedir em casamento. Esta noite ainda lá estará - ainda há cartas por aparecer saídas de dentro da manga ou de detrás da orelha - mas os meus lábios estão por pintar. Haja romantismo.
Faz falta uma madrugada de chuva que afogue o rio que me olha, todos os dias, cheio de fragmentos do que fui e deixei. E lá está ele, na outra margem, o príncipe de trapos que me assombrou a juventude. Fode-me agora, que já nada me importa, que já não tenho morada onde ancorar os meus sonhos. Eu sempre desconfiei: as minhas lágrimas são açúcar na tua boca.
E agora, assim chego ao fim: sem nada de mim que seja (m)eu.
Fiz-me velha cedo. Aprendi a gostar de velhos, também. Descobri que os bancos de jardim, aqueles onde bate o Sol das cinco, têm mais vida quando lá se senta alguém do tempo d'a menina dança?.
Leia-se aqui: quando eu morrer, que se ouça murmurar sob a lembrança de mim: em miúda, nenhuma dor lhe corroía tanto o peito nem lhe pesava tanto no choro, senão o sonho de ter nascido no tempo da palavra.
fotografia tirada daqui.
7 comentários:
oh minha menina ainda vais pedir o mágico em casamento e vais ter muitas noites de bebedeira para afogarmos todas as mágoas que moram connosco. espera só um bocadinho.
(não consigo comentar isto...)*
querida Rita, não és nada velha, porque tu és daqueles que transbordam uma juventude eterna nas palavras.
eu gostava de acreditar nas palavras, mas é como já disse: é um mundo cão, mas não ladra, só morde. e dói muito continuar a acreditar na magia quando nos continuam a dar pontapés e a dizer que não se pode ser assim a sangue e lágrimas tão depressa quanto sorrisos e abraços. e depois, Lisboa só é bonita quando o sol lhe bate daquela forma. e depois não sei o que digo, mas sei que tu sabes. sei que gostei de ler isto porque está mesmo bonito. estás a escrever cada vez melhor. (apesar de ter ficado surpreendida ali com o fode-me) *
tu ainda acreditas, rita, só queres pensar que não acreditas.
ermm... (acreditar doi muito e os sonhos também, os caminhos são tortuosos, mas hão-de levar-te lá.)
se calhar deviamos fazer como no japão, onde as cidades são construidas não há volta de um centro urbano-histórico-whatever mas há volta de um vazio, toda a cidade é construída à volta de um jardim onde há a contemplação de um vazio (que é tudo em certa medida). se calhar só precisavamos de um pulmão. erm eu preciso. seis cafes a falar, não ligues. mas ri-te, vá lá.
não estás velha, só precisas de descansar.
vamos ver-nos, eu tu e a catarina p semana se der. sim? o mais provavel é levar mil apontamentos atrás, mas vou tentar arranjar um tempo.
bisous*
tens aqui um bonito blog :)*
Ando mensal. Não devia, mas ando. Mensal a escrever, que a ler ainda me escorre mais lento o tempo. Beijo do tio ( velho e relho ). Esta um belissimo texto. Mas isso é o normal. Noto no teu branco, porém, uma cinza nova. Não, não é velhice; é tamanho adquirido, vida vista, vastidão. Gosto de ti, sobrinha.
Rita, dás-me fé.*
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