Queria poder encontrar-te num banco de jardim deserto e seres um velhinho. Pegar-te-ia pela mão e trazer-te-ia para casa. Lavava-te, cortava-te as unhas, penteava-te o cabelo, fazia-te a barba e tu ficavas sempre muito quietinho, a olhar-me cheio de ternura. Ficavas sentado no sofá da sala, com uma manta sobre os joelhos, e eu ficava à tua beira, a aquecer-te as mãos - grandes e secas, isso o tempo não tinha sido capaz de mudar. Tu mandavas um beijo para o ar que vinha bater na minha bochecha direita e me provocava um sorriso igual ao de quando eu ainda era uma menina.
Não falavas, porque nunca foste bom com as palavras, nem nunca soubeste lidar com o amor. Eu, já conhecendo isso, engolia o teu silêncio em seco e punha música a tocar, enquanto ia para a cozinha fazer mais um dos meus chás.
Quando voltava, de canecas nas mãos, tu estavas de pé à minha espera. Esticavas o braço na minha direcção, a tua palma da mão a chamar-me. Eu pousava as canecas e oferecia-te a minha mão a repousar na tua. Dançávamos como quando eu era tão pequenina que mal te chegava ao umbigo e encostava a minha cabeça à tua barriga, enquanto os nossos pés rodopiavam. Fomos sempre um grande par de dançarinos, ia-me lembrar disso nesse momento.
Havias de te cansar cedo do bailado, porque o vigor de outros tempos já te tinha abandonado o corpo. E morrias sem nunca ter pronunciado a palavra Perdoa-me, mas eu ignorava esse facto, porque já te tinha perdoado no momento em que o tinha lido nos teus olhos.
Não falavas, porque nunca foste bom com as palavras, nem nunca soubeste lidar com o amor. Eu, já conhecendo isso, engolia o teu silêncio em seco e punha música a tocar, enquanto ia para a cozinha fazer mais um dos meus chás.
Quando voltava, de canecas nas mãos, tu estavas de pé à minha espera. Esticavas o braço na minha direcção, a tua palma da mão a chamar-me. Eu pousava as canecas e oferecia-te a minha mão a repousar na tua. Dançávamos como quando eu era tão pequenina que mal te chegava ao umbigo e encostava a minha cabeça à tua barriga, enquanto os nossos pés rodopiavam. Fomos sempre um grande par de dançarinos, ia-me lembrar disso nesse momento.
Havias de te cansar cedo do bailado, porque o vigor de outros tempos já te tinha abandonado o corpo. E morrias sem nunca ter pronunciado a palavra Perdoa-me, mas eu ignorava esse facto, porque já te tinha perdoado no momento em que o tinha lido nos teus olhos.
Tenho as tuas mãos, os teus olhos e os teus tons. Podes imaginar o peso que isto tem sobre mim e que não tenho como abandonar...
E também tenho saudades tuas,
mas já não conheço o caminho até ti...
nem sei por que jardins te perdes.
E também tenho saudades tuas,
mas já não conheço o caminho até ti...
nem sei por que jardins te perdes.
fotografia tirada daqui.