23 novembro 2007

« Levo as asas nos bolsos e o coração a planar. »

Posso ter perdido de vez as tuas mãos a afastarem-me o cabelo dos olhos ou a apertarem-me as bochechas. Talvez não me volte a sentir tão protegida em mais nenhum abraço, como no teu. Mais ninguém vai encarar com naturalidade as minhas manias e hábitos, que tu já tão bem conhecias. O teu colo pode já não estar disponível para me deixar descansar... E talvez não me possa mais enroscar no teu pescoço.
Posso não ter nunca mais ninguém a pegar-me ao colo ou a deixar-me andar às cavalitas no meio do jardim. Nunca mais ninguém vai querer sair de casa comigo, com mau tempo e sem guarda-chuva, e apanhar uma molha daquelas, só para ir comprar uns botões à Baixa. Duvido que mais alguém me pessa para lhe ensinar a andar de baloiço...
Posso não poder rir mais contigo, como ríamos. Posso não ter mais telas para pintar ou janelas por onde ver o arco-íris. Posso não receber mais cartas de amor de ninguém.



Mas ainda guardo em mim o desejo de conhecer mais mundo, para além do que me mostraste e do que descobrimos juntos.
A vontade de ver (mais) longe,
presa a mil e um sonhos.