26 outubro 2005

Perdi-me. No Branco. Sem fim.

Perdi-me num branco sem fim.
No branco duma folha de papel. Escondida no branco dum envelope, dobrado. Perdido no branco duns lençóis amarrotados. Entre o branco de quatro paredes, com ouvidos e vozes. (Pilares do branco do tecto, do branco dum céu... Sem estrelas nem sonhos.)
Perdi-me num branco.
De bom. E de mau.
De beijos e bofetadas.
Pancadas psicológicas que fazem sangrar. Dum vermelho de vida. Ou de morte.
Perdi-me no branco duns olhos baços. Baços e mortos. Mortos e frios... Duma apatia contagiante. Duma apatia sufocante.
Perdi-me num branco sem fim.
Duma mão branca e fria, que me tapa os olhos, todas as noites. O branco duma mão. Pequena e gelada.
Logo a mim... Logo eu... Que me tinha habituado a umas mãos grandes. E quentes. E quentes. E quentes...
Perdi-me no branco de um labirinto. Feito de muralhas cor de nada. Rodeadas dum branco espalhado em flores. Cobertas do branco dum orvalho matinal.
Perdi-me. Da tua mão. Do teu quente. Do teu corpo, feito de reflexos brilhantes e coloridos em noites escuras.
Perdi-me num sonho. Branco. Apagado. Pelo branco duma borracha que apaga sonhos, em segundos. Que apaga sorrisos. Com motivos e vontades.
Perdi-me num branco sem fim.
Um branco que consome. Que engole vida e a cospe logo a seguir, sem ligar importância.
Perdi-me. Branca. Fria. Num nada qualquer.
Logo eu... Logo a mim... Que só queria perder-me em ti.

Oh, meu amor... Onde está o branco em Ti?



/me on Explosions in the Sky

6 comentários:

paulo disse...

Para quem se achava estranha à poesia ( pois é, estou a cobrar ) é um excelente poema. Para quem se sente branca, versos, em branco. Continuo a ver-te a cores, rapariga. E não há mais cor que no branco, o grande comilão de toda a luz. Segue até ao fim do arco-íris, mas por favor não pares lá.

maria disse...

Isto que o Paulo diz aqui em cima é mesmo isso... segue até ao fundo do arco e, depois, à chegada, não pares lá! Parte de novo, Rita!
Sabes...
eu tenho uma teoria... (pois é, mais uma!) uma ideia que me faz crer que só nos deixamos sugar pelos brancos vazios das tropeçadelas da vida quando deixámos de olhar para os outros brancos, aqueles, os comilões das cores todas (tb como disse o Paulo!)! Rita, tu és o arco-íris melhor guardado que alguma vez vi! Talvez seja esse teu brilho que anda a baralhar-te as cores e a dimensão das mãos e o calor que julgas ser de alguém para além de quem és mas é em ti que se acende!

O calor... segue o morminho das letras, cada vez mais forte (ainda que não sintas), cada vez mais confiante (ainda que pareça tudo tombar), cada vez mais certa (ainda que pareça que só há encruzilhadas no caminho)... diz-se disto que é Ser Gente! eu acrescento: Bonita! Atenta!

Um sorriso grande e o xi, Enorme!
*

Anónimo disse...

às vezes lemos coisas lindíssimas, pensamos "que bonito" mas logo a seguir esquecemos a pessoa, a escrita, a mensagem.
de alguma forma, por algum motivo, a pessoa não nos tocou.
mas tu tocas-me particularmente, rita :)
és uma menina linda, com uma alma branca, e negra, e arco-íris.

Anónimo disse...

oh
eu perdi me
numa fase
numa fase corderosa

Mónica disse...

o teu amor perdeu-se no azul q há em ti!

Sara Leal disse...

mas que bonito! o branco, o branco! Tão simples e tão cheio de nada.

Gostei bastante, menina :)
Parabéns*