Ele aparece, sempre, quando já estão todos a dormir. Abre a porta e entra, sem pedir licença. Talvez ele saiba como gosto de rugir um ‘não’ enorme, a quem se põe aos murros contra a porta calando a música que sai das paredes (brancas brancas brancas). Então, nunca bate. Abre-a, entra e volta a fechá-la. E eu nem sei como é que ele consegue... Porque acho que nunca dei nenhuma chave daquela porta a ninguém. Mas ele tem uma. E gosta de dar voltinhas com a chave na porta, para a trancar, quando já está do lado de cá. E depois guarda-a num bolso pequenino, escondido algures num casaco duma tonalidade triste de verde...
Vem sempre com uma folha de papel, na mão (branca branca branca). Mete-a num lugar qualquer do chão e abre a gaveta onde está guardada uma caixa de lápis de cera. Da primeira vez que veio, demorou muito tempo a encontrá-la. Abriu e fechou todas as gavetas até encontrar a caixa. Desarrumou tudo e nem pareceu muito preocupado. Agora, já sabe onde a guardo. E eu até já pensei em mudá-la de sítio. Mas ele era capaz de se cansar de brincar às escondidas...
Com a sua folha (branca branca branca) e os meus lápis de cera, ele ocupa um espaço qualquer do chão. Como se este quarto fosse muito mais dele do que meu.
Ele não deve gostar de cadeiras. E eu entendo-o bem... O chão sempre me soube muito melhor.
Quando ele vem, eu também costumo estar sentada no chão. Com os olhos pregados a um céu pintado de branco (branco branco branco...)...
Ficamos os dois no chão. Que me parece ficar, sempre, mais quente quando ele começa a desenhar...
Ele é pequenino e tem sardas no nariz. Acho que tem o cabelo meio ruivo. Não tenho a certeza... A luz já é sempre pouca, quando ele vem.
Não fala. E a música pára, enquanto ele agarra nos lápis e os pressiona, com força, contra a folha.
Quando acaba, levanta-se e guarda a caixa com os lápis de cera na gaveta. A folha... deixa-a no chão.
Tira a chave do bolso pequenino e abre a porta. Vai-se embora e eu, do lado de cá, ouço a chave a dar voltinhas, do lado de lá.
Entra e sai. Calado. Sempre.
As paredes (brancas brancas brancas) estão a ficar revestidas por desenhos que um menino pequenino faz e deixa no meu chão, todas as noites. Arco-íris e nuvens cô-de-rosa... Com um menino igual a ele e uma menina (igual a mim?) de mãos dadas, na relva.
Esta noite, ele só utilizou o lápis vermelho. No meio naquele branco todo da folha, só fez um pontinho vermelho. Um ponto. Quente... Saiu e eu não ouvi a chave às voltinhas, do outro lado. A porta ficou aberta... E eu não sei se o que oiço é a voz dele a chamar-me...
Vem sempre com uma folha de papel, na mão (branca branca branca). Mete-a num lugar qualquer do chão e abre a gaveta onde está guardada uma caixa de lápis de cera. Da primeira vez que veio, demorou muito tempo a encontrá-la. Abriu e fechou todas as gavetas até encontrar a caixa. Desarrumou tudo e nem pareceu muito preocupado. Agora, já sabe onde a guardo. E eu até já pensei em mudá-la de sítio. Mas ele era capaz de se cansar de brincar às escondidas...
Com a sua folha (branca branca branca) e os meus lápis de cera, ele ocupa um espaço qualquer do chão. Como se este quarto fosse muito mais dele do que meu.
Ele não deve gostar de cadeiras. E eu entendo-o bem... O chão sempre me soube muito melhor.
Quando ele vem, eu também costumo estar sentada no chão. Com os olhos pregados a um céu pintado de branco (branco branco branco...)...
Ficamos os dois no chão. Que me parece ficar, sempre, mais quente quando ele começa a desenhar...
Ele é pequenino e tem sardas no nariz. Acho que tem o cabelo meio ruivo. Não tenho a certeza... A luz já é sempre pouca, quando ele vem.
Não fala. E a música pára, enquanto ele agarra nos lápis e os pressiona, com força, contra a folha.
Quando acaba, levanta-se e guarda a caixa com os lápis de cera na gaveta. A folha... deixa-a no chão.
Tira a chave do bolso pequenino e abre a porta. Vai-se embora e eu, do lado de cá, ouço a chave a dar voltinhas, do lado de lá.
Entra e sai. Calado. Sempre.
As paredes (brancas brancas brancas) estão a ficar revestidas por desenhos que um menino pequenino faz e deixa no meu chão, todas as noites. Arco-íris e nuvens cô-de-rosa... Com um menino igual a ele e uma menina (igual a mim?) de mãos dadas, na relva.
Esta noite, ele só utilizou o lápis vermelho. No meio naquele branco todo da folha, só fez um pontinho vermelho. Um ponto. Quente... Saiu e eu não ouvi a chave às voltinhas, do outro lado. A porta ficou aberta... E eu não sei se o que oiço é a voz dele a chamar-me...
8 comentários:
esse menino parece-me ser de uma beleza poética infinita.
e tu... és tu :)
Gostei bastante do que li. Não só deste post como dos outros que acbei de ler. Parabéns.
entao pk nao vais la ver quem é?
se calhar vais ter uma surpresa boa do outro lado :)
gosto te* (e um dia vou voltar a dzr *ponto quente* ao teu ouvido, no meio de uma aula qlq enfadonha. vou sussurar e dps empresto os meus lapis de cera dos chineses ao teu amiguinho e dps vamos rir tds juntos sentados no chao a comer bolo de chocolate feito por mim e a beber leite frio, enquanto ouvimos the cure mas sem ter vontade de chorar. sim?)
[saí mas era p mandar um beijinho e dizer que te gosto muito e assim* e vou dormir 40 horas seguidas....se conseguir*]
Se te estiverem a chamar, vai. Se for preciso até ao fm do mundo.
Rita...
Não sei já se escreves mesmo muito bem (pronto! e isso será magnífico!) ou se, muito mais que isso, tens o dom da "invenção" de imaginários doces e quentes e cheios de emoção, ou se alguma força te chama tão alto, tão alto, tão alto, que te vejas impelida, empurrada, obrigada, confundida, baralhada... a ir.
Bom, se o Ir acontecer por bem, se o Ir acontecer para dar lugar a melhores escritos e mais histórias boas, lindas e de companhia real, que fica que, deixando as portas abertas é companhia presente e se faz sentir... bom, se é assim, eu ia! Mas só se for para ser mais livre, para ser melhor, para fazer melhor!
Se esse Ponto.Quente é doce e ajuda a criar mais... eu ia! mas só seguiria esse menino de casaco duma tonalidade triste de verde depois de saber muito bem quem estava para lá do casaco (e porquê a tonalidade triste de verde) e como desenhava sempre e só dos desenhos e por eles me visitava... e porque fechava a porta? e do que teria medo, para fechar a porta? e porque aprendeu que não era mais necessáio usar a chave? e como tinha obtido a chave, à partida?...
mas perguntar é meio caminho para construir novos enredos...
Ir. Importa ir e Perguntar.
:) ah... Rita, tinha saudades tuas! **
Não sei o que comentar.. Sim, é verdade, não sei mesmo.. Baralhas-me. Fico sem saber se estas coisas são reais ou simples ficção..
Doro-ti*
=)) k lindo!!! sim vai ter com ele...ele ia gostar =)
bj0*
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