[O post que se segue é comprido e sem qualidade literária absolutamente nenhuma. (Nem sei ao certo o que isso significa...) Mas apeteceu-me deixar de falar sozinha, só por um bocadinho. (Continuo a falar sozinha, de qualquer das maneiras... Não é? Pois é.)]
Perdi o amor pelos números. E, agora, também pelas letras. Eu costumava gostar muito de letras. Porque são assim todas diferentes umas das outras. E, algumas, enrolam-se nelas mesmas. Se calhar, para se aquecerem. Não sei. Mas é bom podermos ter a oportunidade de juntar meia dúzia de letras e criar a palavra ‘mãos’. Porque mãos são uma coisa bonita, mesmo. Eu gosto de mãos. Gosto mesmo. Gosto de dedos a brincar, uns com os outros. E de tardes inteiras deitados na relva, de mãos dadas. Mas não é uma coisa rápida. É devagarinho, sabes? Porque acho que os nossos dedos são um bocadinho envergonhados. Mas, no fundo, são esfomeados também. E, quando se juntam, já não se largam mais. Mãos quentes com mãos frias. Porque as minhas mãos são frias. Como eu. ‘Mãos frias, coração quente’, disse ele. Mas não sei. Eu já nem sequer o sinto. Ao meu coração, entendes...? Deve ter congelado ou assim.
Descobri que ainda há coisas bonitas. É por isso que estou com tanto medo de voltar. Tenho medo de me esquecer dos cheiros e dos sabores. E medo de deixar de sentir um dedo indicador a bater na minha mão, enquanto marca o ritmo duma canção qualquer. Há coisas que deviam durar muito mais tempo. Outras nem sequer deviam acabar. Bolas. E também há algumas que nem deviam começar. Como a escola. A escola é uma coisa má. Com pessoas a mais e amigos a menos. Antes, era uma coisa boa. Onde ríamos e apanhávamos flores. Agora, já não. Não gosto dos olhos. Nem dos ares sofisticados e desconfiados. Uma vez, sonhei que me agarrava a um pilar da escola e gritava ‘aqui vou ser feliz!’. Como no anúncio... Sabes? E ela estava do outro lado, agarrada ao mesmo pilar. E gritava o mesmo. Gritávamos as duas, essa frase. E (sor)ríamos muito. É uma estupidez sonhar com coisas destas, porque eu nunca vou ser feliz naquele antro de misérias. O pior de tudo são os números. Que são cada vez mais. E eu, bolas, odeio-os. Sou fraca. Devia ter coragem para lhes dizer que nunca mais quero ter de escrever o ‘6’ ou o ‘9’, com a mesma caneta que devia escrever o 'A' e o 'R'. Mas não sou capaz. Eles esperam isso de mim. E eu sei que não vou ser capaz. ‘É tudo uma questão de hábito’, dizem eles. Mas a verdade é que andei um ano a tentar habituar-me. E só morri vezes de mais.
O ano passado, a Professora de Português mandou-nos escrever uma carta. Escrevi a carta para a Fada Amarela que, um dia, me há-de vir buscar. Tive vergonha de a mostrar, no fim. Mas foi bom quando a Professora a elogiou. Nem deve ter entendido metade das coisas que eu escrevi, mas ainda assim elogiou. Eu senti-me uma criança pequena quando acaba de receber um saco cheio de gomas. E, nesse dia, fui a pé para casa. A molhar os pés nas poças e a sorrir. Só faltaram as mãos, parece-me. Mas, agora, já as tenho. E não queria mesmo nada ter de as largar.
A Nônô está lá em cima. A olhar-nos e a sorrir. É linda, como ninguém. E eu amo-a, como a mais ninguém. Foi ela que me adormeceu, a noite passada. E foram as mãos dele que me limparam as lágrimas. Tive os dois ao meu lado. Foi por isso que dormi quentinha. É por isso que, hoje, as minhas mãos não estão geladas.
Perdi o amor pelos números. E, agora, também pelas letras. Eu costumava gostar muito de letras. Porque são assim todas diferentes umas das outras. E, algumas, enrolam-se nelas mesmas. Se calhar, para se aquecerem. Não sei. Mas é bom podermos ter a oportunidade de juntar meia dúzia de letras e criar a palavra ‘mãos’. Porque mãos são uma coisa bonita, mesmo. Eu gosto de mãos. Gosto mesmo. Gosto de dedos a brincar, uns com os outros. E de tardes inteiras deitados na relva, de mãos dadas. Mas não é uma coisa rápida. É devagarinho, sabes? Porque acho que os nossos dedos são um bocadinho envergonhados. Mas, no fundo, são esfomeados também. E, quando se juntam, já não se largam mais. Mãos quentes com mãos frias. Porque as minhas mãos são frias. Como eu. ‘Mãos frias, coração quente’, disse ele. Mas não sei. Eu já nem sequer o sinto. Ao meu coração, entendes...? Deve ter congelado ou assim.
Descobri que ainda há coisas bonitas. É por isso que estou com tanto medo de voltar. Tenho medo de me esquecer dos cheiros e dos sabores. E medo de deixar de sentir um dedo indicador a bater na minha mão, enquanto marca o ritmo duma canção qualquer. Há coisas que deviam durar muito mais tempo. Outras nem sequer deviam acabar. Bolas. E também há algumas que nem deviam começar. Como a escola. A escola é uma coisa má. Com pessoas a mais e amigos a menos. Antes, era uma coisa boa. Onde ríamos e apanhávamos flores. Agora, já não. Não gosto dos olhos. Nem dos ares sofisticados e desconfiados. Uma vez, sonhei que me agarrava a um pilar da escola e gritava ‘aqui vou ser feliz!’. Como no anúncio... Sabes? E ela estava do outro lado, agarrada ao mesmo pilar. E gritava o mesmo. Gritávamos as duas, essa frase. E (sor)ríamos muito. É uma estupidez sonhar com coisas destas, porque eu nunca vou ser feliz naquele antro de misérias. O pior de tudo são os números. Que são cada vez mais. E eu, bolas, odeio-os. Sou fraca. Devia ter coragem para lhes dizer que nunca mais quero ter de escrever o ‘6’ ou o ‘9’, com a mesma caneta que devia escrever o 'A' e o 'R'. Mas não sou capaz. Eles esperam isso de mim. E eu sei que não vou ser capaz. ‘É tudo uma questão de hábito’, dizem eles. Mas a verdade é que andei um ano a tentar habituar-me. E só morri vezes de mais.
O ano passado, a Professora de Português mandou-nos escrever uma carta. Escrevi a carta para a Fada Amarela que, um dia, me há-de vir buscar. Tive vergonha de a mostrar, no fim. Mas foi bom quando a Professora a elogiou. Nem deve ter entendido metade das coisas que eu escrevi, mas ainda assim elogiou. Eu senti-me uma criança pequena quando acaba de receber um saco cheio de gomas. E, nesse dia, fui a pé para casa. A molhar os pés nas poças e a sorrir. Só faltaram as mãos, parece-me. Mas, agora, já as tenho. E não queria mesmo nada ter de as largar.
A Nônô está lá em cima. A olhar-nos e a sorrir. É linda, como ninguém. E eu amo-a, como a mais ninguém. Foi ela que me adormeceu, a noite passada. E foram as mãos dele que me limparam as lágrimas. Tive os dois ao meu lado. Foi por isso que dormi quentinha. É por isso que, hoje, as minhas mãos não estão geladas.
/me on The Gift - Fácil de Entender
7 comentários:
ah rita... queria poder dizer-te tantas coisas, escrever-te tantas coisas.
gosto de ti, sabias? um gosto que nasce por aquelas pessoas que amam as mesmas letras que nós.
uma cumplicidade muda que fica cá dentro e só nós percebemos.
também gosto de mãos. mãos pequenas e esguias.
mãos brancas e morenas.
dedos firmes.
os números deixaram de me fazer sentido quando descobri que não existia um número para escrever infinito.
oh, como eu gostei deste texto.. quer tenha sido escrito a cuidado ou não. gostei, e pronto.
mãos, gosto de mãos também.. mãos entrelaçadas e tudo mais, e gosto de coisas bonitas que só nós entendemos.
..e gostei do teu desabafo
muito, muito bonito
um beijo *
mãos juntas em segundos que parecem eternidades.
mãos juntas quando parece proibido fazê-lo.
mãos juntas como se tivessem vergonha (como disseste).
bolas, isto trouxe me tantas coisas de volta à cabeça (e ao.. coração..?).
gosto te tanto* queria tanto dar te um bjinho na testa e outro no nariz e abraçar te enquanto digo k vai tudo acabar bem*
Começa a escrever os números por estenso, com todas as letras que eles levam. Assim, um 9 é nove, noves fora, nada; ou um 5, é cinco, como os dedos das mãos que buscam outros cinco dedos. E 6, é a hora a que se chega cansado a casa, para ver no canal 2 dois ou três carttons. É o chmado dar a volta ao texto, ou ao nº. neste caso. Beijos. Texto neste caso que não percisa de nenhuma volta. Eu dáva-lhe um 10 ( perdão um dez )
Pois eu sou "agarrada" a números!
Gosto de tudo neles. mas gosto especialmente de os desenhar! ao contrário! traço todos os algarismos de pernas pro ar, foi sempre assim. e saem mais bonitos.
Mas gosto mais de escrever letras, assim, agarradas umas às outras, a desenharem (elas) as palavras.
Mas também gosto mais ainda (se calhar) de mãos. geladas. Gosto de mãos geladas a refrescarem-nos a cara vermelha e demasiado quente.
Às vezes ainda gosto mais de outra mão na minha mão.
Mas gosto mesmo é de brincar com mãos e letras e números escritos em repentes.
Na Escola há, na verdade, gente a mais e (às vezes) amigos a menos mas...
ainda assim, eu gosto de teimar e berrar que na Escola também aprendemos a ser... felizes! - que mais não seja porque é lá que aprendemos (com o aprender de experiência feito) aquilo e aqueles de quem deveras Gostamos!
xi grande, Rita!
(olha, li ali a cima a Fairy... e lembrei-me disto: dizem, os matemáticos, que só se complica tudo quando nos "metemos" com o infinito... deve ser por isso que o símbolo dele é como uma letra esticada e posta a dormir, o 8 deitado!) ;)
*
por ti, Rita! por "ti"!!!!
;)
isto agora foi só p'ra deixar um xi
de noite boa! e sonhos com luz de candeeiros mágicos!
- porque chatice não hão-de, os candeeiros, ser mágicos? -
*
eu li tudo Rita. e voltei a ler. e tenho lido. e continuo sem saber o que dizer. tb me falham as palavras, sabes? é estranho... como tudo o que é bom pode ser tão...mau.
e como o que se pensa que está certo nem sempre é o melhor para nós. que sabem eles?
eu não sei...
e acho que eles tb não sabem nada, nada, nada sobre...mim...ou ti... ou tantos.
e andamos por aí a dizer que amanhã vai ser melhor... quando no fundo, a maioria não acredita numa única letra das palavras que escreve (ou diz...) ; on nºs não me dzem muito...como é que se escreve com nºs? as palavras são menos concretas...mas são caracteres mais... sentidos. é o sentir e a apatia eu acho. [bolas... - cm tu dizes - este comentario está a ficar tão estúpido...] eu acho. nunca sei. peço desculpa.
se algum dia for, de facto, uma fada amarela... vou-te buscar. mesmo.
*
C.
Enviar um comentário