19 setembro 2005

People are Strange.

Sinto-me cansada.
Estou, mais uma vez, sentada no chão. É estranho eu nunca me ter habituado a cadeiras. É estranho, também, ter frio e não querer ir buscar um casaco. Se calhar, estou só à espera de me constipar. Para ter uma razão para poder ficar fechada neste quarto.
Levantei-me cedo demais. E só depois é que percebi que este foi só o primeiro de muitos dias escuros que ainda estão para vir.
Tenho os olhos fraquinhos. Acredito, realmente, que agora os óculos não me iriam fazer mal nenhum. Os números, lá ao fundo, estão cada vez menos nítidos. E eu nem sei se isso me importa.
Dias passados a lembrar coisas antigas tornam-se, sempre, esquisitos. Sorrio, ao lembrar-me dum boné, dumas mãos nos bolsos e dum olhar quieto. E a seguir rio-me sozinha, a pensar numas pernas abertas e num caderno riscado, numa aula de Química. É estúpido ter saudades das aulas de Química, das segundas-feiras. Mas eram as únicas em que me ria e sussurrava sempre baixinho (acho que para mim mesma) ‘oh, aparece. não faltes. senão isto fica chato...’. E ele aparecia, sempre. Depois lembro-me de cachecóis pretos e grandes, enrolados à volta de dois pescoços gelados. E de mãos esquisitas. E de gritos histéricos. E de olhos fechados com muita força, para não poder vê-las. E dos risos à volta... Sorrio muito sozinha, a lembrar momentos perdidos num tempo qualquer que eu nem soube reconhecer como bom ou mau. Mas depois acaba sempre a 'viagem', com palavras tolas que me acordam. Mas o sorriso já não desaparece.
Saudades é uma coisa esquisita. Acho que nunca soube muito bem lidar com elas. Nem com ausências ou distâncias. Não importa, elas existem sempre de qualquer forma...
Não dá para acreditar. Mas é giro... Imaginam-me a dar aulas de Filosofia, à sombra daquela árvore grande da escola. E a cantar coisinhas, com toda a gente sentada na relva. Térérés no cabelo e uma boina qualquer na cabeça. All Star nos pés. E guizos e mais guizos. «Ah, e um rádiozinho a tocar The Cure! 'Friday I'm in love!'» Sons. E cores. Um futuro de cores, foi assim que ela mo descreveu. E nem me pareceu nada mal...
Mas viver é uma coisa esquisita. E eu dou por mim com duas bolinhas brancas, pequeninas, ao meu lado. Mais tarde ou mais cedo, acabo sempre por as engolir. Agora, fazem-me dormir. E eu prefiro assim, a ter de pensar demasiado no que me acontece a cada minuto que passa.
Tenho frio. Mas não vou buscar um casaco.
Estou cansada.
Vou dormir. Este chão já me conhece tão bem...


/me on Coldplay

11 comentários:

maria disse...

Olá!
Gostar da aula de química (seja qual for a razão do quadro à presença na sala, do frio nas mãos ao calor no coração) é Bom! :)
Olha, hoje só me apetece dizer aqui: há frios que nos chegam de fininho, desde o chão - pelos pés calçados-de-fresco, ou pelo cabelo - depois de lavado e largado, à solta, no vento norte. Há frios que se vestem de casacos. Outros, deixam-se andar por aí, como fantasmas, moles e trôpegos. A estes do fim, temos de dar O fim...
Rita, quem dera encontrar-te num qualquer sonho onde só os olhos entram... às vezes tenho a impressão de tudo poder ser tão mais fácil se te visse para lá deste fundo tão fundo que se esconde nas palavras! assim, como se pelas entrelinhas delas escutasse uma canção...
Escreves numa harmonia suave e doce, entre a pessoa e a palavra. Escreves como se, pelas letras juntas, te afastasses de todo o enregelar da alma, como se nenhum fantasma se atrevesse (tão pouco) a pairar perto de quem te lê, quanto mais de ti...
Escreve!

*

Anónimo disse...

olá! Olha... era só para responder ao comentário que deixas-te no meu flog, e como eu só vi hoje, fui ao teu flog, e não tinha espaço para eu comentar xD Bem.. eu vivo na Madeira. Ilha da Madeira. Arrepiante, hum? ;X *

maria disse...

Rita, Olá!
Lembras-te do que escreveste no quem.escreve?
:)
pois bem...
as senhoras crescidas, talvez possam quase-tudo mas:
Quem quer ser "senhora crescida"???

*

paulo disse...

Rita, lembras-te do Camus? Aqui vai correcto:
"Não sei se este mundo tem um sentido que me ultrapassa. Mas sei que não conheço esse sentido e que, de momento, me é impossivel conhecê-lo. Que significa para mim uma significação fora da minha condição? Só posso compreender em termos humanos. O que toco, o que me resiste, eis o que compreendo." Beijo.

requiescatinpacem disse...

eu não quero ser senhora crescida!! nunca!!


Kisses

Anónimo disse...

sim, lá vias ser aquela fada branca que (te) imagino.
lá vais ser feliz, sim?*

Ana disse...

I'm back...

Miguel disse...

que bonito Rita.

tanto sentimento neste texto, e identifico-me bastante.. toda a gente diz isto.. não quero ser banal desta vez, não hoje, e agora, que me senti tão tocado por este texto, e tão familiar.. também passei muitas aulas a sorrir, mas a pensar em alguem que estaria lá fora, no intervalo, e com quem eu iria estar.. por isso compreendo-te perfeitamente, e por ter mexido realmente comigo, quero que saibas que não quero ser banal ao dizer que me identifico com o teu texto.

porque mais do que nunca, identifico-me mesmo..

um beijo *

Anónimo disse...

olá

É bom recordar, mas as saudades doem tanto...
Então quando são de pessoas...

Mas talvez sejam as saudades que nos ligam ao passado, de modo a nunca perdemos as pessoas de kem gostamos. é apenas o k eu penso.

Bjinhos

Anónimo disse...

não é que tenha interesse a minha opinião,mas gostei de ler o teu blog.é impossível uma pessoa não se identificar...continua sempre*

Anónimo disse...

sabes rita... viver é isso mesmo.
recordar, sorrir e pensar que amanhã iremos recordar esses momentos também.