28 maio 2005

« Por seres do céu. Por ser para Ti... »

Eu estou na minha cama. Deitada.
Atirei as almofadas para o chão.
Não puxei os cobertores. Continuam esticados, na perfeição.
Eu estou deitada. Na minha cama.
De olhos abertos.
Estou vestida. E descalça.
Consigo ouvir a chuva, lá fora. E o barulho das janelas a vibrarem com o vento.
Estou a olhar para o tecto.
Não estou a pensar em ti. Não me sinto sequer capaz de pensar.
Não quero.
Torna-se sempre mais fácil não pensar. Para não sentir...
Inclino-me ligeiramente para a mesa-de-cabeceira, ao meu lado, e desligo o candeeiro.
Deitada. De olhos abertos.
O tecto. Tão branco. Tão escuro.
Sozinha. Às escuras. A ouvir a chuva. E o vento.
Levanto-me, num impulso. Não entendo porque o faço, mas não importa.
E levanto-me.
Fico parada. Junto à cama. Em pé.
Descalça... Sinto o chão tão frio. E gosto. E quero.
Eu vejo-te. Está escuro, mas eu vejo-te.
Sentado, no chão. Encostado à parede, ali do fundo... Pernas encolhidas. Olhas para mim.
Eu, parada. Junto à cama. Em pé. A ver-te.
Eu não sei se o que vejo és tu ou se é a tua imagem na minha memória. Mas eu vejo-te. E tu olhas-me.
Começo a andar. Lá para o fundo...
Eu vejo-te. Tu olhas-me.
Caminho lentamente. Tu, cada vez mais perto a cada passo meu.
Chego a ti. Vejo-te...
Consigo distinguir cada pormenor teu.
Continuas sentado, no chão. Com as pernas encolhidas.
Eu baixo-me. Sento-me no chão, ao teu lado. Encosto-me à parede. Encolho também as pernas.
Eu olho para os teus olhos. Acho que eles olham para os meus também.
A noite. O escuro. A chuva. E o vento.
Eu vejo-te.
E, agora, podia dizer uma palavra. Agora, neste momento que parou para sempre, podia estender a minha mão e levá-la ao encontro da tua. Podia tocar a pele da tua mão.
Mas eu não sei se o que vejo és tu ou se é a tua imagem na minha memória.
Por isso, não arrisco.
Permaneço. Imóvel. Em silêncio.
E continuo a olhar para os teus olhos.
Lá fora, uma noite chuvosa. Aqui, eu a ver-te, ao meu lado.
Sentados num chão demasiado frio. Sem nos tocarmos.
Nós.

Hoje, não tenho medo do escuro.

28 Março 2005

25 maio 2005

*

Até já oiço os passarinhos...
E sinto o cheiro, a 'qualquer coisa doce e clara'...

Não importa se ainda vai demorar muito tempo...
O nosso céu espera-nos.


« Por seres do céu. Por ser para Ti... »

21 maio 2005

Carros destruídos não combinam com estrelas.

E sentes que, num só momento, tudo te tenta escapar das mãos.
Mas não escapa...
Ele sabe que se o perdêssemos iríamos sofrer muito...

Noites sem estrelas.
E um senhor com uma coisa esquisita dentro das veias. Que o faz descontrolar-se e não ver ninguém.
E um rapaz.
Um senhor e um rapaz.
Um senhor e um...
Estrondo!

Telefones a tocar. E mentiras de carros avariados.
Voltas e mais voltas numa cama. Que não nos deixa adormecer.
Sozinha. No escuro.
Não morreu, por sorte.

Cabeças atordoadas.
E medo.

Teste com muitos números. E a caneta a fugir das mãos...
Os comprimidos. E a falta deles.
Olhos molhados e mãos a tremer.
E já nem importa se não se conseguem fazer contas. Nem distinguir os números das letras.

Já está tudo bem.

14 maio 2005

Desejo.

Vivo à espera dum futuro, que não chega...

Imagens e palavras, que flutuam na minha cabeça.
E eu a vê-las. E a ouvi-las... Sem as poder agarrar.
E sem as conseguir parar.

Não há sonhos. Nem planos. Nem objectivos.
Perdi-os. A todos...
Agora, talvez só existam caprichos e vontades. Que não se satisfazem...

E um futuro. Que não chega.
Porque, se calhar, nem é meu.
Ou, então, porque o desejo demais...


/me on The Gep Up Kids

08 maio 2005

Sigh...

Se eu não estivesse tão cansada... até me dava ao luxo de chorar.


/me on Toranja - Laços

03 maio 2005

Tic - Tic - Tic...

Eu pensei que passasse.
Que fosse só uma fase... Daquelas que duram semanas, mas depois acabam por desaparecer.
Pensei que fosse capaz de me mostrar. A mim e aos outros.
De ver e de deixar ver.
Não passou.
E este relógio no meu pulso... Que me [re]lembra que o tempo não pára, mesmo quando me tento esquecer disso...
Tic - Tic - Tic...
Sempre mais um Tic, a cada segundo que passa... Sem Tac. Só Tic's... Sozinhos.
Eu não queria ouvir. Para me esquecer que perco sempre mais um sorriso por cada segundo que passo aqui...
Eu. Aqui. Sempre.
No mesmo chão... frio. No meio das mesmas paredes... dum branco que agonia.
E sempre as mesmas músicas... Que não deixo de ouvir. Porque não sou capaz...
As músicas... Que são as vozes que espero todos os dias poder receber de Alguém.
Deixas perdidas que Ninguém agarra.
Porque não deixo.
Ou porque não quer...