Disseram-me que eram risos. Risos autênticos, mesmo que descentralizados. Perdidos em ruas estreitas demais para nos deixarem rodopiar sobre nós mesmos.
E músicas. Sempre uma nova melodia a cada passo dado na direcção do penhasco. Ou da nuvem mãe.
Um abraço com música de fundo. Um beijo acompanhado pelo som frenético da orquestra. Uma vida com banda sonora. Onde o repeat ou o stop da aparelhagem nem existem... Só o play.
Disseram-me que era noite. Uma eterna noite gelada. Feita de mãos frias com cigarros presos entre os dedos. E fumos confundidos entre a humidade e as lágrimas quentes que escorrem pela cara redonda.
Lágrimas em passeios sempre me pareceram a melhor forma de recuperação. Os passeios são mágicos. (Mas só à noite, quando a cidade já dorme e as ruas estreitas alargam à nossa passagem.) Fazem-nos olhar para a ponta dos pés e pensar ‘Bolas. De que vale correr e andar, se venho sempre ter ao mesmo sítio?’
E nem entender que andar em círculos pela cidade nem sempre é mau. Ao menos, voltamos sempre a casa. Que pode ser só um passeio ou uma estação. Normalmente, nunca é um tecto sólido.
Perdemo-nos de propósito. E sabemos sempre voltar de olhos fechados.
Disseram-me que eram corações cheios. De bom ou de mau. Mas sempre cheios. E eu pensei que corações cheios, de alguma coisa, haveriam de ser melhores que os corações vazios... (E são.)
Mesmo quando partem presos a um comboio. E os nossos pés ficam colados ao chão, enquanto a mão não pára de acenar. Triste e fraca. Como se voz tivesse: adeus...
E passar noites em estações de comboios. Fechar os olhos, deitada num banco, e adormecer. Abri-los, e ser noite. Já ou Ainda. Porque são tempos convertidos numa eterna noite gelada. Em que só os risos fazem brilhar. E em que só os olhos brilhantes sabem aquecer.
Acordar com uma garrafa de álcool ao alcance das mãos e não a largar mais. Porque sim. Mais tarde, vamos olhá-la de novo e vamos querer abri-la. Vamos abri-la e vamos querer prová-la. Vamos prová-la e vamos rir e chorar para as nuvens.
Deitar a mão ao bolso do casaco e descobrir um morango. Que brilha e fala. E canta e sorri. Um morango fora de época numa mão e uma garrafa, já só por metade, na outra.
Disseram-me que eram corpos cansados estendidos na relva fresca. E olhares colados a céus estrelados. Onde a felicidade sentida durante dois segundos, por presenciar a passagem duma estrela cadente, se converte num logo período de sorrisos.
Disseram-me que Juventude era isto. E eu acreditei.
Agora, por favor... não me colem Números às estrelas.
(Um dia, a eterna noite gelada chega ao fim. E o céu perde os brilhantes. Os pequeninos brilhantes que quase se tocavam e descolavam lá de cima, com as pontas dos dedos.
Um dia, a noite perde-se. E o céu, em vez de ficar limpo, só acinzenta.
Nesse dia, entendemos que a Juventude não é mais do que uma ressaca psicológica. E que, essa sim, provoca efeitos secundários.)
/me on Jeff Buckley - Dancing in the Moonlight
fotografia tirada daqui.
E músicas. Sempre uma nova melodia a cada passo dado na direcção do penhasco. Ou da nuvem mãe.
Um abraço com música de fundo. Um beijo acompanhado pelo som frenético da orquestra. Uma vida com banda sonora. Onde o repeat ou o stop da aparelhagem nem existem... Só o play.
Disseram-me que era noite. Uma eterna noite gelada. Feita de mãos frias com cigarros presos entre os dedos. E fumos confundidos entre a humidade e as lágrimas quentes que escorrem pela cara redonda.
Lágrimas em passeios sempre me pareceram a melhor forma de recuperação. Os passeios são mágicos. (Mas só à noite, quando a cidade já dorme e as ruas estreitas alargam à nossa passagem.) Fazem-nos olhar para a ponta dos pés e pensar ‘Bolas. De que vale correr e andar, se venho sempre ter ao mesmo sítio?’
E nem entender que andar em círculos pela cidade nem sempre é mau. Ao menos, voltamos sempre a casa. Que pode ser só um passeio ou uma estação. Normalmente, nunca é um tecto sólido.
Perdemo-nos de propósito. E sabemos sempre voltar de olhos fechados.
Disseram-me que eram corações cheios. De bom ou de mau. Mas sempre cheios. E eu pensei que corações cheios, de alguma coisa, haveriam de ser melhores que os corações vazios... (E são.)
Mesmo quando partem presos a um comboio. E os nossos pés ficam colados ao chão, enquanto a mão não pára de acenar. Triste e fraca. Como se voz tivesse: adeus...
E passar noites em estações de comboios. Fechar os olhos, deitada num banco, e adormecer. Abri-los, e ser noite. Já ou Ainda. Porque são tempos convertidos numa eterna noite gelada. Em que só os risos fazem brilhar. E em que só os olhos brilhantes sabem aquecer.
Acordar com uma garrafa de álcool ao alcance das mãos e não a largar mais. Porque sim. Mais tarde, vamos olhá-la de novo e vamos querer abri-la. Vamos abri-la e vamos querer prová-la. Vamos prová-la e vamos rir e chorar para as nuvens.
Deitar a mão ao bolso do casaco e descobrir um morango. Que brilha e fala. E canta e sorri. Um morango fora de época numa mão e uma garrafa, já só por metade, na outra.
Disseram-me que eram corpos cansados estendidos na relva fresca. E olhares colados a céus estrelados. Onde a felicidade sentida durante dois segundos, por presenciar a passagem duma estrela cadente, se converte num logo período de sorrisos.
Disseram-me que Juventude era isto. E eu acreditei.
Agora, por favor... não me colem Números às estrelas.
(Um dia, a eterna noite gelada chega ao fim. E o céu perde os brilhantes. Os pequeninos brilhantes que quase se tocavam e descolavam lá de cima, com as pontas dos dedos.
Um dia, a noite perde-se. E o céu, em vez de ficar limpo, só acinzenta.
Nesse dia, entendemos que a Juventude não é mais do que uma ressaca psicológica. E que, essa sim, provoca efeitos secundários.)
/me on Jeff Buckley - Dancing in the Moonlight
fotografia tirada daqui.